quinta-feira, 3 de julho de 2008

CASTELO DE VIDE

27 de Dezembro de 2006
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Monumento a Mouzinho da Silveira

Alentejanos descansando no Pelourinho

Estátua de D. Pedro V

Fachada da Igreja Paroquial

8 comentários:

joão coelho disse...

Os tons de verde em Castelo de Vide foram a primeira "marca" que me fez lembrar S.Miguel, quando conheci a "Sintra do Alentejo" nos idos de 80..Outra marca, a pronúncia dos locais, com o "u" acentuado,semelhante à micaelense; dizia-me Carolino Tapadejo, então Presidente da Câmara, que isso teria a ver com a ida de mais de uma centena de familias judaicas para S.Miguel e com a sua fixação, na zona de C.de Vide, no regresso ao Continente ( e, se não erro, o Municipio local terá colaborado com a Câmara da Vila da Povoação, na realização de trabalho de investigação sobre a matéria).
Castelo de Vide é, como se vê numa das fotos aqui inserida,terra natal de Mouzinho da Silveira que tem fortes ligações aos Açores, para onde foi forçado a deslocar-se em 1828, fixando-se na ilha Terceira. Em 1832 forma-se, naquela ilha, o Ministério Liberal, com Mouzinho e Almeida Garrett, entre outros; ocupando a pasta da Fazenda, Mouzinho toma uma série de medidas em prol da melhoria das condições de vida dos açorianos - uma delas, para protecção da ilha do Corvo, leva a que a população envie um grupo de representantes à ilha Terceira, em barco a remos! para agradecer a M.da Silveira. O politico,sensibilizado pela atitude, diz então que, quando morrer, quer ser sepultado no Corvo..o que acabará por não acontecer.
Outro filho ilustre de C.de Vide, é Salgueiro Maia, capitão de Abril. No pós 25 de Novembro, foi colocado em S.Miguel, no Batalhão de Infantaria nº18, provávelmente por o considerarem um perigoso "esquerdista"...E por lá andou, passando por provocações várias de "democratas" locais, até voltar ao Continente para, imagine-se, dirigir o Presídio militar de Santarém...

Saudações atlânticas

João Coelho

Elisabete disse...

Fantástico, João Coelho!
Fico-lhe imensamente grata pelas informações que aqui me dá.
Gosto muito de Castelo de Vide, mas não imaginava estas ligações aos Açores.
Bem haja!
Elisabete

joão coelho disse...

Gosto de C.de Vide pelas razões apontadas, e também pela índole dos seus habitantes. É gente que passa o tempo a inventar partidas e brincadeiras, por uma forma que nunca vi noutras paragens. Por ex. quando Carolino Tapadejo dirigia a Câmara, participou numa "história" que levou alguns crédulos da terra a acreditar que, para se casarem, tinham de ir à Autarquia, receber uma "guia de marcha", assinada pelo Presidente e com carimbo da Câmara, rezando que " seguia o mancebo fulano de tal para a Igreja de C.Vide, no dia tantos de tal, afim de que se celebre casamento com fulana de tal..etc" - mais ou menos nestes termos..E, noutra ocasião, convenceram uma figura da terra, conhecida pelo seu conservadorismo e aparente exigência de rigores morais de que ia abrir, em C.de Vide, uma boite com dançarinas de "strip tease", com inauguração a horas escusas..por volta da meia-noite, ou coisa assim..E depois de "adubarem" o individuo com informações muito sigilosas sobre as características do estabelecimento, foram pôr-se à espreita, na noite da suposta abertura, para apanhar o fabiano a rondar o local, à espera de entrar no "antro do pecado"..ao arrepio das suas propaladas virtudes de cidadão exemplar..
Outra situação teve a ver com o facto de, em C.de Vide, existirem associações de individuos com o mesmo nome: os Josés, os Manueis, etc.. Mas, como boa terra alentejana, ficavam de fora uma data de cidadãos, com nomes estranhos - como Carolino Tapadejo. Então formaram a Associação dos nomes estranhos, que tinha um dia de comemorações, integrando um cortejo, com estandarte próprio, que se deslocava ao cemitério, em homenagem aos sócios falecidos, e um almoço, com discursos em louvor dos marginalizados pela estranheza do nome..
Enfim, qualidade de vida..
Obrigado pelos seus blogues, deve dar-lhe uma trabalheira enorme. Há num deles duas referências, uma à Tabacaria Açoreana e outra à Adega Lusitânia, que me farão voltar aqui, logo que puder.

Saudações atlânticas

João Coelho

Elisabete Neves disse...

Muito obrigada, João. Os seus comentários são fantásticos.
E tem razão há, nas localidades mais pequenas, episódios impossíveis nas grandes cidades.
Fico à espera das informações acerca da Tabacaria Açoriana (Ponta Delgada), de grandes tradições culturais e onde eu ia muitas vezes, e da Adega Lusitânia (Angra do Heroísmo), onde comi bela alcatra e a sopa obrigatória.
Um abraço
Elisabete

joão coelho disse...

Olá, bom dia

O meu problema é que me falta tempo para escrever menos, como dizia Vieira..e receio maçar os seus visitantes..
A Tabacaria Açoriana, quando o Gil ainda não tinha aberto, primeiro, o seu café, e depois a livraria, era ponto de encontro e local de tertúlia, principalmente aos Domingos de manhã, para alguns especialistas de tudo e coisa nenhuma..À volta de um café e folheando jornais da terra, formavam-se grupos cujos elementos iam trazendo à baila acontecimentos locais, merecedores de comentário mexeriqueiro, no geral tudo gente aspirante a classe média. Pontificava nessas manhãs, o Sargento Carradas,músico na Banda regimental, assim conhecido por ter sempre "carradas de razão", em tudo o que discutia.. Era um homem dos mais prolixos que conheci, falava de tudo, de astronomia, navegação, invenções,e de.. siderurgia.. Um dia, dissertando o Carradas sobre a produção de aço em Portugal (que não existia na época, a Siderurgia do Seixal só foi criada mais tarde) entusiasmado pela sua imaginação, e partindo de alguns elementos que conhecia sobre a matéria,começou a descrever como eram os "altos fornos" portugueses - diz-se altos, pelas elevadas temperaturas necessárias à produção do aço - Estava presente o meu pai, mestre do Ensino Técnico, homem circunspecto, de ouvir mais do que falar, mas que, na ocasião, não se conteve, e disse: "Ó sargento, olhe que em Portugal não temos altos fornos, o ferro e aço com que trabalhamos é importado.."
O nosso músico não se atrapalhou, e retorquiu: "Mestre Leonel, os nossos não são, de facto, muito altos, são mais baixos, mas existem!.."
Era assim o Carradas..
A Açoriana tinha outra virtude, essencial para alguns dos jovens da minha geração: era um local de compra de livros e jornais do Continente; lá comprei, entre outros, o livro de Homem de Mello que, antes de Spínola, criticava a politica africana..e lá passava, sempre expectante, para ver se já tinham chegado os jornais..O dono da Tabacaria era o sr.Fernando que, felizmente, deixou o bichinho cultural aos filhos, seus sucessores no negócio, e anos mais tarde, organizadores de uma Feira do Livro, nas instalações da Tabacaria, que julgo ter sido pioneira em S.Miguel.
A Adega Lusitânia conheci-a nos anos 60, quando, em Angra do Heroísmo era ainda uma tasca,onde se comia bom peixe porque o dono era pescador..Chão de terra, espaço escuro e um bocado "encardido", não tinha nada a ver com o que é hoje, funcionando num tempo em que a cidade só tinha práticamente um restaurante, o "Beira Mar", junto ao Páteo da Alfândega. Na Lusitânia havia um grupo que mantinha uma "tradição" muito própria: por altura da tourada à corda do Alto das Covas, metiam-se na tasca, vendo os touros e o pessoal a correr de um lado para o outro, e quando percebiam que um dos bichos já estava um bocado farto de tanta correria, faziam-lhe uma pega, e metiam o focinho do animal na entrada da taberna..onde outros, já preparados, enfiavam um barrilete de vinho pela boca do bicho abaixo. E depois ficavam a apreciar o percurso do animal, tornado companheiro de Baco..a trocar as patas pelo caminho fora..
Coisas que hoje seriam censuráveis..mas que, na altura, eram apreciadas pelo pessoal, da terra ou forasteiros..

Um abraço com
saudações atlânticas

João Coelho

Elisabete disse...

João,
É uma maravilha ler as suas memórias.
Se me permite, hei-de utilizar estes seus escritos no "Ilhas".
Claro que ninguém se aborrece com os seus comentários. Muito menos eu, que me delicio com eles.
Um abraço
Elisabete

joão coelho disse...

Olá

Tenho todo o gosto, utilize os escritos à vontade; obrigado pelo acolhimento. Vou sair do país até 18 de Agosto, boas férias para quem está a gozá-las. Um beijo para si, com votos de continuação de bom trabalho.

Saudações atlânticas

J.Coelho

Elisabete disse...

Boas férias, João!