quinta-feira, 5 de março de 2009

BELADONAS



E as beladonas! Tantas! Havia-as em todos os canteiros. Brotavam da terra, misteriosas e perfumadas, vestidas de seda cor-de-rosa, aqui e ali, por toda a parte, às vezes até nas ruas do jardim! Nas ruas... que escândalo! - comentava o gesto brutal do velho jardineiro, arrancando-as e atirando-as para o lado sem piedade. Coitadinhas!... Tantas! Sem uma folha: a haste direita e o palmito ao alto! Toda a seiva se desentranhou em cor e perfume. Elas, todas, apenas são corola e alma! E as beladonas, toda a gente sabe, só brotam da terra, misteriosas e perfumadas, vestidas de seda cor-de-rosa, em Setembro.
Florbela Espanca, As Orações de Soror Maria da Pureza (conto)

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